As jornalistas Aldenora Cavalcante e Gabriela Varella, podcasters e experientes no formato, destacam a relevância das mídias de áudio para a comunicação e dão dicas para quem começar a fazer jornalismo neste formato
Por Nayani Real
Edição: Anelize Moreira
Artes: Luana Copini
Nos últimos anos, as mídias de áudio vêm reconquistando seu lugar na rotina dos consumidores de informações. Um bom exemplo disso, é que durante a pandemia do coronavírus o consumo de podcast cresceu no Brasil. Mais da metade dos brasileiros (57%) começaram a consumir podcasts neste período, e quem já era fã elevou seu consumo em 31%, de acordo com estudo realizado pelo Ibope para Pesquisa Globo Podcast, com mais de mil pessoas.
“O poder deste formato está em possibilitar a criação de novas narrativas, já que as pessoas podem abordar temas que não são representados pela mídia tradicional. Apesar das dificuldades, o formato traz a possibilidade de diversidade, mas ainda tem muito a caminhar”, explica Aldenora Cavalcante, repórter da revista Revestrés e do Portal Estado do Piauí, além de produtora da Malamanhadas Podcast.
O Brasil chegou a figurar entre os cinco países que mais ouvem podcasts no mundo, segundo a pesquisa. Para Gabriela Varella, produtora da Rádio Novelo e dona do podcast independente Inquietude, esses dados de aumento do consumo de áudios durante a pandemia foram uma surpresa.
Ela ressalta que o consumo pode estar relacionado a algo que ela chamou de um ‘’momento de preparo para fazer coisas’’, como ir à faculdade ou ao trabalho, principalmente para aqueles que não puderam fazer home office ou isolamento social. Varella faz ainda um paralelo com a rádio, que tem memória de ouvir com seus pais no café da manhã antes de ir para a escola, diariamente, durante a infância.
Para a produtora da Rádio Novelo a potência do áudio é a chance de fazer jornalismo em outros formatos e de se conectar com pessoas mais jovens.
Segundo o relatório Culture Next Report, lançado este ano pelo Spotify, um dos maiores streamings do formato: a geração Z, pessoas com até 24 anos, usam o celular como a principal fonte de notícias. Somados a eles, os millennials, que são as pessoas entre 25 e 40 anos, dizem confiar mais em podcasts do que nos formatos de mídia tradicionais.
As duas jornalistas integraram a oficina sobre como criar um podcast no primeiro dia da 16ª edição do Congresso ABRAJI, nesta segunda-feira, 23, em formato virtual.
Como começar a produzir podcast?
‘’Um bom produtor de podcast? É um bom ouvinte”. É isso o que acredita Gabriela, que vê a alternativa como uma possibilidade para os jornalistas, especialmente num cenário em que as redações têm cada vez menos pessoas.
Experientes no assunto, ela e Aldenora estão de acordo: se você quer criar um podcast, o conteúdo deve ser a sua principal preocupação.
Elas também destacam que é importante ter uma abordagem didática e atemporal, apostar nos recursos sonoros, como falas de entrevistados, músicas e sons que se relacionem com o tema para não cansar o ouvinte.
Varella enfatiza que é importante lembrar que o silêncio também é um recurso: você nem sempre precisa usar uma música para abordar temas tristes, por exemplo.
Além disso, a produtora diz que uma das chaves para episódios dinâmicos é encontrar o que ela chamou de ouro.
“Usar aquela frase inédita ou informação curiosa faz a diferença”, explicou, usando como exemplo o podcast ‘’Praia dos Ossos”, explica Varella.
Ela conta que a Rádio Novelo só conseguiu entrevistar o feminicida de Leila Diniz, Doca Street, quando o roteiro de Praia já estava fechado. Para ela, no entanto, essa entrevista fez toda a diferença para a série.
Inspire-se e seja um podcaster
Aldenora e Gabriela criaram uma Playlist com podcasts para você se inspirar, além do Guia prático para começar a desenvolver a sua própria série.
A cobertura oficial do 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ, sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto. Conta com o apoio institucional da Abraji, do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em cooperação com a Oficina de Montevideo/Oficina Regional de Ciências para a América Latina e Caribe.
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