Juliana Del Piva, colunista do UOL, em palestra neste sábado (06) sobre a cobertura política no governo Bolsonaro.
Mesa discute a cobertura da Presidência da República e responderam como a imprensa pode recuperar sua credibilidade
Por Lucas Andrade | Edição: Ronald Sclavi | Fotos: Maria Ferreira dos Santos
“Ele não legitima, ele não respeita o trabalho da imprensa, ele não reconhece a gente como alguém que tem dar justificativa de suas ações de governo”, afirmou a jornalista Juliana Dal Piva sobre a cobertura jornalística do governo Bolsonaro. A colunista do Uol, participou do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado pela ABRAJI.
Durante a discussão sobre a cobertura do Governo Federal, o jornalista Fernando Molica, comentarista da CNN Brasil, afirmou que as pessoas e a própria imprensa ficaram surpreendidas com o movimento que levou a eleição de Jair Bolsonaro. “Foi uma campanha até revolucionária em certo aspecto”, disse Molica. Entretanto, o jornalista ressalta que ninguém pode afirmar que o Bolsonaro mudou seu comportamento antes e depois das eleições. Pelo contrário. É o presidente mais parecido com o candidato de todos que já concorreram ao cargo.
Em relação à interação com a imprensa, a jornalista Andreza Matais, editora executiva do Estadão e chefe da sucursal em Brasília, disse que “Bolsonaro conseguiu desacreditar o trabalho da imprensa. Ele conseguiu estabelecer um diálogo direto com a sociedade, com o eleitorado, pelas redes sociais”. A editora ressaltou que o presidente gosta de afirmar que não elaborou políticas públicas contra a liberdade de imprensa, mas seus ataques são constantes via redes sociais.
O jornalista Guilherme Amado, colunista do Metrópoles, disse que atualmente é menos atacado do que no início do governo. “Acho que perceberam que eles pouco me importam. Até o Carlos Bolsonaro parou de falar de mim”. Amado ainda ressaltou que independente da sua visão política, sua atuação é sobre o fato que está sendo apurado.
Juliana Dal Piva ainda ressaltou que não se reinventou como jornalista para cobrir o governo Bolsonaro. Ela apenas retomou um aspecto do início de sua carreira que é o jornalismo investigativo. Para a colunista, desde o início da campanha eleitoral de 2018, ficou muito claro que ele era um candidato diferente de todos os outros. A cada matéria que fazia, a jornalista procurava responder a questões básicas como: “Quem é Jair Bolsonaro? Quem ele é, mesmo, de verdade”?
Molica lembra que a credibilidade da imprensa já havia sido contestada em função da cobertura da Lava Jato. Segundo o jornalista, o governo Bolsonaro só amplificou esse fenômeno junto à opinião pública.
Como recuperar a credibilidade?
Para recuperar a credibilidade e o respeito que a imprensa merece, Amado afirmou que é preciso fazer com que as pessoas retomem o interesse pela imprensa. “É preciso chamar os leitores para dentro das redações, das histórias. A gente conversa muito pouco com as pessoas”, afirmou Amado.
Já Juliana observa que o chamado jornalismo declaratório se restringiu aos temas como homofobia, racismo e machismo, entre as polêmicas do presidente. “Estes assuntos não são polêmicas e tem que ser tratados como tal”. A jornalista ainda chamou a atenção para situações que envolvem mentiras do chefe de Estado. “O título tem que vir dizendo que é mentira. Dizer que o presidente mente. Dizer: Ele mentiu nesse assunto.”.
Já Molica lembrou que a imprensa em geral ainda não trata autoridades da forma como deveriam ser tratadas: “Temos que ser mais duros com os políticos, com os governantes. O governo Bolsonaro deixou isso bem claro.” Andreza ressaltou que Bolsonaro tem que ser responsabilizado pelos seus atos e que essa mudança que está ocorrendo para recuperar a credibilidade da imprensa está partindo da base dos repórteres pressionando as cúpulas dos jornais.
A cobertura oficial do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ, sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto. Conta com o apoio institucional da Abraji, do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) – Oficina de Montevideo.
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