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“A reportagem está em extinção”, diz Caco Barcellos ao ser homenageado no 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Responsável por uma revolução no estilo de produzir telejornalismo, Caco trouxe à tona informações que revelaram abusos cometidos pelas forças de segurança no país e nunca se calou diante da brutalidade policial.

Por Dora Scobar | Edição: Mariana Assis | Fotos: Marco Pinto/Abraji

Repórter com mais de cinco décadas de atuação, mentor de jovens profissionais e inspiração para gerações, Caco Barcellos, de 73 anos, está sempre ansioso pela próxima reportagem. “Sempre acho que não vou conseguir fazer”, fala em tom de seriedade, quebrado por um riso tímido. O veterano foi o homenageado da 18a edição do Congresso da Abraji, aplaudido por um auditório lotado. 

“É importante a gente homenagear jornalistas que demonstrem a importância da investigação. Mas é importante escolher uma figura como ele (Caco Barcellos), porque é alguém que apesar do currículo e dos serviços prestados à sociedade brasileira, continua sendo uma pessoa extremamente acessível”, diz Cecília Olliveira, que é co-fundadora do Fogo Cruzado e diretora da Abraji. Junto dela, Katia Brembatti, presidente da Abraji, compuseram a mesa que prestou homenagem a Barcellos. 

A cerimônia contou com a exibição de um documentário, “50 anos de reportagens de Caco Barcellos”, especialmente produzido para o evento. O documentário traça uma linha do tempo das reportagens marcantes de Caco. O jornalista descobriu, por exemplo, o modus operandi da ROTA – Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, a existência da vala clandestina de Perus. que, para Cecília Olliveira,  “realmente foi uma coisa marcante para a história brasileira”. Indo de encontro com os seus trabalhos, dados levantados pelo documentário denunciam que nos últimos 20 anos, 1688 jornalistas foram assassinados no nosso país.

“Os bastidores da notícia, os desafios da reportagem”

Caco foi responsável por uma revolução no estilo de produzir telejornalismo e trouxe à tona informações que revelaram abusos cometidos pelas forças de segurança no país. O repórter nunca se calou diante da brutalidade policial e, ainda durante o debate, fez denúncias à impunidade desses agentes. “Nunca na história do Brasil teve um militar punido por morte ou tortura durante a Ditadura”, ressaltou.

Seus feitos jornalísticos e aventuras vividas na corrida pelos fatos são inúmeros: Caco foi sequestrado por guerrilheiros na Colômbia, viajou para países em conflito e, na eleição do ano passado, denunciou reuniões suspeitas de compra de votos durante a corrida presidencial. O jornalista publicou alguns livros-reportagens que se tornaram clássicos, como “Nicarágua: a revolução das crianças”, de 1982, “Rota 66 – A História da Polícia que Mata”, que identificou jovens assassinados pela brutalidade policial, de 1992, e “O Abusado: O Dono do Morro Dona Marta”, de 2003.

Caco Barcellos falou com exclusividade com a reportagem ao final da palestra. Ao ser perguntado sobre qual a investigação dos seus sonhos, ele respondeu, sem pestanejar: “A próxima!”. 

“Eu tenho que contar as histórias com o maior rigor possível, ainda mais porque esse gênero do jornalismo, o da reportagem, está em extinção e a gente precisa agarrar com todas as forças para contar histórias, toda semana, das pessoas que querem contar suas histórias pra gente”, finaliza Caco.

A cobertura oficial do 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ, sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto. Conta com o apoio institucional da Abraji, do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) – Oficina de Montevideo.

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