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Combater violência política é urgente, diz Anielle Franco

“Enquanto eu tiver sangue correndo nas veias eu vou defender o legado da Marielle”, afirmou a Ministra da Igualdade Racial.

Por Thaís Manhães | Edição: Giulia Afiune | Foto: Marco Pinto/Abraji

Para Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial, é urgente combater a violência política no Brasil, principalmente contra mulheres negras e periféricas. “A gente precisa pensar uma lei severa, séria, para a violência política nesse país. A gente não pode normalizar o que aconteceu com a Talíria  [Petrone], com a Duda [Salabert] e com tantas outras que estão lá lutando”, afirmou a Ministra, referindo-se a duas parlamentares que sofreram ameaças políticas.

Ela citou ainda o caso da deputada Benedita da Silva (PT), que afirmou, durante entrevista, passar por violência política há quarenta anos, mas sem saber nomear o que vivia. E citou Áurea Carolina (PSOL), ex-deputada federal que não quis concorrer à reeleição por causa de um colapso emocional. “Quando estamos no Congresso conversando elas falam: ‘eu não sei se nas próximas eleições eu quero vir’. Esse é o resultado de uma violência política”, afirmou Anielle. 

A Ministra Anielle Franco foi entrevistada pelas jornalistas Gabi Coelho (Estadão Verifica e Abraji) e Basília Rodrigues (CNN) no primeiro dia do 18º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo. Durante a conversa, ela falou diversas vezes sobre sua irmã, Marielle Franco, vereadora que foi assassinada em 2018 por defender seus ideais. “Enquanto eu tiver sangue correndo nas veias eu vou defender o legado da Marielle”, afirmou Anielle Franco.

Os Ministérios da Igualdade Racial, dos Povos Indígenas, da Justiça e Segurança Pública, dos Direitos Humanos e da Cidadania integram o Grupo de Trabalho Interministerial que irá elaborar a Política Nacional de Enfrentamento à Violência Política contra as Mulheres, com coordenação do Ministério das Mulheres. Segundo a Ministra Anielle, a articulação com outros órgãos e com a sociedade civil são pilares estruturais para um futuro pautado pela justiça social.

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Da periferia ao Palácio do Planalto: ministra Anielle Franco e o combate à desigualdade racial‘ | 18º Congresso Abraji | Fotos: Marco Pinto/Abraji

Igualdade racial: do Ministério às redações

Segundo Anielle, durante o governo Bolsonaro, as iniciativas federais para promoção da igualdade racial e enfrentamento ao racismo foram enfraquecidas ou descontinuadas. Por isso, retomar programas e criar novas políticas públicas para a população negra são os principais objetivos do Ministério. Estruturação e formulação marcaram os primeiros meses de existência do órgão, mas sem deixar de lado as emergências enfrentadas pela população negra, que permanecem no radar da Ministra. 

“Nesses primeiros seis meses eu disse para a equipe: vamos estruturar, vamos arrumar a casa, mas a gente tem que atender as emergências que o povo preto têm”, disse Anielle. 

Em março, o Ministério da Igualdade Racial lançou o Pacote pela Igualdade Racial. O conjunto de medidas traz, por exemplo, o Programa Aquilomba Brasil, para promover direitos da população quilombola, a criação de grupos de trabalho para educação, cidadania, memória e tolerância religiosa e a proposta de reserva de 30% das vagas dos cargos e funções comissionados na administração pública federal para pessoas negras.

Formada em jornalismo pela Universidade do Estado da Carolina do Norte (EUA), Anielle Franco afirmou que desistiu de seguir na profissão por sentir que aquele espaço não era para ela. “Na primeira entrevista que eu fiz quando voltei dos Estados Unidos para o Brasil eu ouvi: ‘Você não tem rosto para bancada. Você não será contratada.’ E eu desisti da carreira de jornalismo por causa daquilo ali”, disse Anielle.

Ela defendeu que é preciso ter mais pessoas negras tanto na política quanto nas redações jornalísticas, onde a presença de profissionais brancos ainda é predominante. 

Em entrevista exclusiva para a OBORÉ – Projetos Especiais, a Ministra afirmou ainda que “a gente precisa ter um jornalismo antirracista mas também que respeite a população, a democracia e tudo que a gente representa aqui nesse governo”.

A cobertura oficial do 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ, sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto. Conta com o apoio institucional da Abraji, do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) – Oficina de Montevideo. 

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